Comunidade do Recife usa Lei de Acesso à Informação para mobilizar moradores sob risco crítico de deslizamento

Ao longo das gerações, a política do matar, do deixar morrer, ou do deixar viver em mundos de morte, fez com que o “medo da chuva” e o soterramento de corpos se tornasse uma “notícia sazonal” no bairro e na cidade durante os meses de maior precipitação. Segundo dados obtidos junto à Secretaria de Infraestrutura do Recife em maio de 2024, foram encontradas, em Água Fria, 533 casas em situação crítica, sob risco alto ou muito alto de desabar.

17 de setembro de 2024 | por

Em maio de 2024,  o coletivo Redes do Beberibe, sob a coordenação do jornalista Victor Moura, fez questionamentos à Defesa Civil do Recife e à Secretaria de Infraestrutura do Recife com o objetivo de saber quantos endereços estão monitorados em áreas de risco. Foram descobertos um total de 17.140 casas na cidade, entre risco baixo e muito alto.  Só no bairro de Água Fria, na zona norte da capital pernambucana, foram encontradas 533 casas em situação crítica, de risco alto ou muito alto. A princípio, os órgãos se negaram a compartilhar a lista com os endereços alegando que a Lei Geral de Proteção de Dados Pessoais (LGPD) não permitia. Porém, após entrar com recursos, o coletivo obteve os dados e começou uma força-tarefa para saber quem são as pessoas por trás dos números.


Junto ao Coletivo Fala Alto e ao Coletivo Minervino, foi criado um formulário digital para coletar informações diversas, como renda, idade, raça, gênero, grau de vulnerabilidade dos moradores e se tem onde se abrigar no caso de um deslizamento de terra. Para divulgação da pesquisa “Perfil dos Moradores sob Risco em Água Fria”, foi feita a colagem de lambes em áreas públicas, distribuição de panfletos e um informativo chamado “Folha de Água Fria”.  Também no campo da comunicação, foi produzido o mini documentário “O plástico preto e as casas sob risco em Água Fria”, viabilizado após aprovação no edital Fala! 2024 para coletivos de Pernambuco. 

Para produção e coleta de dados qualificados, foram criados quatro grupos voluntários, liderados por moradores. Os grupos batem de porta em porta, subindo e descendo ladeiras, escadarias e encostas íngremes no bairro de Água Fria, que tem uma população de quase 50 mil pessoas. Em um primeiro momento, a mobilização em torno da luta pela moradia e prevenção de riscos e desastres já chegou a dezenas de famílias. Ao fim, o objetivo é ter um diagnóstico completo do território, produzir um relatório detalhado e encaminhá-lo tanto à sociedade civil quanto ao poder público. Um ponto de partida para organização de reuniões sobre projetos e prazos para solução das áreas de risco, especialmente com a Autarquia de Urbanização do Recife, órgão responsável por obras estruturantes na cidade.

*Este documentário foi produzido pela Redes do Beberibe e Coletivo Falo Alto, financiada pelo Instituto FALA!, uma organização sem fins lucrativos fundada por quatro mídias independentes referências no jornalismo de causas: Alma Preta, Marco Zero Conteúdo, 1Papo Reto e Ponte Jornalismo.

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