O jornalismo de causas é a essência do fazer jornalístico. É a ação sem imparcialidade ou neutralidade. É o escrever sem ficar em cima do muro. É o entrevistar sem acreditar na existência de uma razoabilidade no discurso banqueiro, histórico ou de supremacismo racial.
Não existem dois lados para debater escravidão. Não existem dois lados para discutir o aquecimento global. O jornalista de causas também é um sujeito objetivo, que analisa de maneira precisa a realidade e não ignora as suas contradições.
É bom lembrar que tomar uma posição não significa omitir dados. Ao jornalista cabe a tarefa de mostrar a complexidade dos fatos. É a melhor maneira de se comunicar com as pessoas, trazer a real, o papo da maneira como precisa ser feito. A tradição jornalística ainda carrega consigo alguns valores de que o repórter ou o profissional de comunicação deve ficar isento diante do mundo.
Na imprensa comercial, o chamado mercado, aquele que em alguns momentos se irrita, outros se acalma, não tem nome, sobrenome, rosto, nada. O jornalismo de causas sociais, e não defensor do mercado, deve dar nome aos gestores do mercado. Mais do que isso, deve enfrentá-lo. O repórter deve se comprometer com a mudança da realidade. É utilizar-se das técnicas jornalísticas, da objetividade, e encarar os problemas reais do país de frente. É sempre bom lembrar da capacidade da informação de transformar conjunturas.
O especial publicado pelo The Intercept chamado de Vaza Jato conseguiu alterar a percepção da sociedade brasileira sobre a prisão de Lula. A obra Rota 66 de Caco Barcelos também foi fundamental para apresentação de dados e provas daquilo que já era denunciado por organizações de movimento negro, a violência policial nas periferias do país.
Num momento em que o jornalismo vive crises e mais crises, se comprometer com o povo, com os seus problemas e enfrentá-los é uma excelente maneira de se aproximar da população.