A cobertura internacional da imprensa no Brasil mostra bem quais são os interesses e valores da imprensa nacional.
Qualquer fato da política estadunidense repercute de maneira incansável no Brasil. São analistas de diferentes cidades dos Estados Unidos a comentar o assunto, com debates sobre o símbolo e o desdobramento concreto de determinado fato para o Brasil e o mundo.
A justificativa histórica para isso é a grande relação comercial existente entre os dois países, para além do peso internacional dos Estados Unidos no mundo. Não à toa, a Rede Globo, por exemplo, tem um escritório grande e de respeito em Nova York, com uma redação completa.
A história, contudo, mudou.
Desde 2009, o principal parceiro econômico do Brasil é a China. Mais, a tendência mundial e a participação do Brasil nos Brics indicam que essa aproximação tende a ficar cada vez mais estreita.
Apesar disso, me diga, qual a televisão brasileira ou canal de imprensa nacional com uma redação em Pequim? Ou mesmo com um enviado especial na cidade? A imprensa nacional deixa de lado todo e qualquer critério objetivo e acaba por piorar o seu trabalho. Sem notícias sobre o principal parceiro econômico do Brasil, é possível dizer que a imprensa deixa de informar a sociedade. Não faz, portanto, o que de central deveria fazer.
Hoje, as decisões do governo chinês são fundamentais para projetar e pensar a política econômica brasileira. A quantidade de investimento que a China vai fazer ou não é um marcador importante para compreender e planejar a economia nacional.
Para além do plano econômico, o mundo hoje está marcado por uma série de conflitos. Rússia e Ucrânia tomam a maioria do noticiário, com uma divisão de atenção das informações com o que ocorre na Faixa de Gaza.
No Oriente Médio, é possível notar como a imprensa opta por descrever o conflito como uma guerra entre Israel e o Hamas, quando se trata de um ataque à toda população palestina. Até o momento, mais de 50 mil pessoas foram mortas pelo Estado de Israel. Existem conflitos, contudo, que a chamada imparcialidade ou neutralidade da imprensa ignoram. A República Democrática do Congo tem sido atacada na sua parte leste pelo grupo armado M23 e, de maneira rara, é recordada na cobertura nacional.
Desde a primeira guerra enfrentada pelo Congo, em 1996, milhões de pessoas já perderam a vida, sobretudo na parte leste do país.
A imprensa nacional, apesar disso, ignora o assunto.
Além dessa, outras crises acontecem no continente africano, como o caso do Sudão e do Sudão do Sul. E nada de uma cobertura apropriada.
O jornalismo de causas é uma forma de tomar para si a objetividade científica da profissão e tomar uma postura diferente daquela adotada pela imprensa comercial.
É necessário que se informe a população brasileira sobre diferentes regiões do mundo e sobre outros conflitos.
No fim das contas, é um compromisso no exercício da profissão, tanto do ponto de vista técnico, quanto ético e político.